domingo, 2 de novembro de 2008

FREUD

Sigismund Scholomo Freud (Sigmund Freud ou somente Freud) judeu austríaco, nasceu aos 06 de maio de 1856 na Cidade de Freiberg na Morávia (atual Príbor-República Tcheca) e morreu em Londres aos 23 setembro de 1939 as 03:00h com 83 anos (instruiu sua filha, Ana Freud a solicitar ao seu médico particular que lhe aplicasse uma dose letal de morfina para acabar com o seu sofrimento, após passar por mais de trinta cirurgias para retirada de um câncer na boca.
Formou-se em Medicina (Neurologia) em 1881 na Universidade de Viena, especializando-se em
Psiquiatria. Começa clinicar atendendo pessoas com problemas “nervosos”. Em 1885 recebe uma bolsa de estudos para Paris onde trabalhou com Jean Martin Charcot, Psiquiatra que tratava de histerias utilizando a hipnose.
Volta a Viena em 1886, traz a nova técnica e trabalha com Josef Breuer outro famoso médico e cientista.
Ana O (Berta Papenheim), foi a principal cliente de Breuer e posteriormente de Freud.
Ana O. sofria com distúrbios somáticos que a faziam sofrer muito. Tinha paralisias com contratura
muscular, inibições, dificuldades de pensamentos, períodos de ausência.
Os sintomas surgiram durante a enfermidade do pai, quando ela havia tido pensamentos e afetos que se referiam ao desejo que o pai morresse. As idéias e sentimentos foram reprimidos e substituídos pelos sintomas. Em estado de vigília Ana O. não era capaz de indicar a origem dos sintomas mas sob efeito
da hipnose, relatava a origem de cada um deles que estavam ligados ao episódio da doença do pai.
Com a rememoração destas cenas e das vivências, os sintomas desapareciam.
Isso não ocorria de forma mágica, mas devido a liberação das reações emotivas associadas aos momentos traumáticos.
Breuer chamou de Método Catártico o tratamento que possibilita a liberação de afetos e emoções que não puderam ser expressos na ocasião da vivência desagradável ou dolorosa.
Esta liberação de afetos (amor ou ódio) leva a eliminação dos sintomas.
“Qual poderia ser a causa de os pacientes esquecerem tantos fatos de sua vida interior e exterior?”.
Perguntava-se Freud. O esquecido era sempre algo penoso para o indivíduo, e era exatamente por isso que havia sido esquecido.
Freud abandona as perguntas no trabalho terapêutico e percebe que os clientes ficam embaraçados envergonhados com as idéias que lhes ocorriam.
Denominou Resistência a força psíquica que se opunha a tornar consciente, a revelar um pensamento.
Chamou de Repressão o processo psíquico que visa encobrir, fazer desaparecer da consciência, uma idéia ou representação insuportável e dolorosa que está na origem do sintoma. Estes conteúdos psíquicos “localizam-se” no inconsciente.
Então, Freud monta a 1ª Teoria ( tópica ) Sobre o Funcionamento do Aparelho Psíquico :

- INCONSCIENTE: (amoral, atemporal) conteúdos reprimidos, sem acesso ao consciente pela ação da censura.
- PRÉ CONSCIENTE : (arquivo) conteúdos acessíveis à consciência; não está na consciência agora
mas no momento seguinte pode estar.
- CONSCIENTE: (aqui e agora) percepção do mundo exterior e interior.

Freud na prática clínica sobre as causas e funcionamento das neuroses descobriu que a maioria de pensamentos e desejos reprimidos referiam-se a conflitos de ordem sexual, localizados nos primeiros anos de vida dos indivíduos, isto é, que na vida infantil estavam as experiências de caráter traumático, reprimidas que se configuravam como origem dos sintomas atuais, confirmando-se desta forma, que as ocorrências deste período de vida deixam marcas profundas na estrutura da personalidade.
Estas descobertas colocam a sexualidade no centro da vida psíquica e é postulada a existência da sexualidade infantil.
Estas afirmações tiveram profundas repercussões na sociedade puritana da época (era vitoriana), pela concepção vigente da infância como *inocente*.
Os principais aspectos destas descobertas são:
- a função sexual existe desde o princípio da vida, logo após o nascimento, e não só à partir da puberdade como afirmavam as idéias dominantes .
- o período de desenvolvimento da sexualidade é longo e complexo até chegar à sexualidade adulta, onde
as funções de reprodução e de obtenção de prazer estão associadas , tanto no homem como na mulher.
Estas afirmações contrariavam as idéias predominantes de que sexo estava associado exclusivamente à reprodução.
- Libido : energia dos instintos sexuais e só deles. Palavra feminina que significa prazer, tesão.

No processo de desenvolvimento psicossexual, o indivíduo tem , nos primeiros tempos de vida, a função
sexual ligada à sobrevivência e portanto o prazer é encontrado no próprio corpo. O corpo é erotizado,
isto é, as excitações sexuais estão localizadas em partes do corpo e há um desenvolvimento progressivo
que levou Freud à postular as FASES DO DESENVOLVIMENTO PSICOSSEXUAL em:


- Fase Oral: (0 meses á 18 meses), libido centrada na região bucal – boca, lábios, dentes, gengivas,
maxilares. O prazer está em sugar. Os traços que trazemos até hoje é o prazer que sentimos ao nos
alimentar, morder, chupar, beijar. A criança aprende a reconhecer o rosto materno quando está
amamentando. Entre o 5º e o 8º mês pode ocorrer da criança começar a estranhar pessoas que não se
assemelhem aos seus pais. É o que se denominou Angústia do oitavo mês.
Nessa fase mãe e bebê mantêm um relacionamento praticamente simbiótico, onde é totalmente dependente da mãe para se alimentar e o estranho ao chegar representa o sumiço de sua fonte de alimentação que é o seio materno (mãe).
Qualquer que seja as dificuldades apresentadas nessa fase para a criança, deixará marcas profundas em sua personalidade. Crianças não alimentadas imediatamente ao nascer, a fome se registrará em todas as células de seu corpo e na sua psiquê também. De nada adiantará posteriormente dar um boi ao dia para esta criança se alimentar que isto não a satisfará. Terá todas as chances de ser um adulto extremamente invejoso, ciumento, obeso, ou pelo contrário magro demais, poderá desenvolver o alcoolismo podendo ainda desenvolver traços anoréxicos, bulímicos. É o típico vampiro que suga toda energia do ambiente ou das pessoas que estão ao seu redor (que começam a bocejar sentindo-se muito fracos).
Essa pessoa se julga credora do mundo.
A relação entre alcoolismo e obesidade reside na boca que é a porta de entrada tanto de líquidos quanto de sólidos.



- Fase anal: (18 meses a 3/ 4 anos), a libido diminui de intensidade na região bucal e centraliza-se na
região do ânus. O prazer está em reter ou liberar os esfíncteres (xixi e cocô ). O prazer em manipular os
esfíncteres relaciona-se com o prazer que a criança tem em controlar seus pais. É no segundo ano de vida
e não se aconselha que seja antes, que deve-se retirar as fraldas da criança a não ser que por si só ela a
abandone. Os traumas decorrentes nessa fase acarretam posteriormente na criança dois tipos de caráter
que são o retentivo e o expulsivo .
- Caráter retentivo, terá aquele que reteve os esfíncteres na tentativa de controlar seus pais e estes não
souberam como lhe dar com esta situação. Terá maiores probabilidades de enriquecer, é chamado de
sovina . Pode ainda manifestar conteúdos homossexuais.
- Caráter expulsivo, possuirá aquela criança que não conseguia reter seus esfíncteres também com
intuito de controlar as figuras parentais . Cabe aos pais quando da liberação dos esfíncteres por parte da
criança em hipótese alguma criticar o seu produto. É tudo o de mais puro e melhor que ela pode lhes
oferecer. Não conseguirá manter relacionamentos afetivos duradouros, não conseguirá
deter o pátrio poder.
Poderá mesmo desenvolver o alcoolismo, a drogadição, a mendicância.
Nessa fase também (2 anos mais ou menos ) tem início no desenvolvimento da
criança, um processo denominado Complexo de Édipo, sobre o qual falarei mais
para frente.
- Fase Fálica: (3/4 anos a 7 anos ) é a fase da descoberta das diferenças sexuais . A libido agora
centrada no falus ( pênis -clitóris ) . A região encontra-se erotizada e para aliviar o estado de tensão o
menino manterá a mão por dentro da cueca se manipulando ao passo que a menina procura ficar
encostada em objetos que possuam quina ou ainda ficar-se roçando entre as pernas dos familiares dando
preferência ao pai. Os pais devem ficar atentos para que a criança não venha a se ferir com tais atitudes.
É comum o menino se masturbar as escondidas e as meninas coçarem a região que apresenta-se
aquecida.
A mãe não deverá estranhar se no momento de banhar seu filho, ele ficar excitado.
Deve-se levar em conta que tais atitudes se devem a erotização dessa região e aos pais cabe não se
escandalizar.
Que atitude tomar diante de tais comportamentos?
Espancar a criança sabe-se que não resolve, só lhe chamaria mais atenção sobre o fato, incentivar é
menos saudável ainda. Deve-se então permitir que a criança pratique o ato por um ou dois minutinhos e
desviar-lhe a atenção, dando alguma tarefa para que possa preencher o tempo ocioso. Solicite a ajuda
dela para algumas tarefas que possa desempenhar e ela logo abandonará o ato.
Algumas frases que não devem ser ditas de forma alguma:
-“vou cortar o seu pipi” , “isso aí só serve prá fazer xixi” , “vou passar pimenta” , “deus castiga”,
“isso é pecado”, “isso é feio”, etc. Lembrem-se de sua infância, tudo o que era proibido era mais
gostoso.
Os distúrbios nessa fase propicia o caráter fálico.
A mulher fálica geralmente é bem sucedida profissionalmente, recebe melhores salários que o parceiro ,
detém o pátrio poder e apresenta-se um tanto masculinizada. A palavra final sobre todos os assuntos
geralmente é sua. Exerce uma ascenção muito grande sobre o cônjuge.
Já a figura masculina prima pelo seu oposto. São homens geralmente impotentes, sem ascendência sobre
os filhos que lhe tratam com indiferença, é subserviente, recebe salários inferiores ao da parceira,
profissionalmente não é realizado, suas atitudes são apáticas.
Ainda durante essa fase a criança passa por uma fase chamada de Complexo de Édipo.

Segundo a Mitologia Grega, Édipo era filho dos reis Laios e Jocasta e segundo previsões dos oráculos, estava destinado à ele destronar, matar o pai e casar-se com a mãe. Laios, logo após o nascimento de Édipo mandou que o levassem e o matassem. Os assassinos amarraram Édipo (em grego significa–o dos pés inchados) pelos pés e o dependuraram numa árvore para que lá morresse. Um rei e uma rainha passando pelo local salvaram-lhe a vida e o adotaram como filho, porém não esconderam que não eram seus legítimos pais.
Quando tornou-se adulto, Édipo partiu em busca dos seus verdadeiros pais. Pelo caminho deparou-se com uma comitiva que vinha em sentido contrário. Um velho saltou-lhe à frente exigindo que lhe desse passagem. Após o desentendimento, Édipo matou o velho e continuou sua trajetória.
Chega numa cidade que está sendo assolada por uma carnificina. A Esfingie (ser meio homem meio leão ) devorava a todos que não conseguia desvendar o seguinte enigma:
O que é que de manhã tem quatro pés, ao meio dia tem dois pés e de noite tem três pés. Porém é durante a manhã quando tem quatro pés, que se encontra mais fragilizado ?
Édipo respondeu: -“É o homem, engatinha quando é bebê, na mocidade anda normalmente e na velhice se utiliza de uma bengala”. A resposta estava correta e a Esfingie se matou. A cidade em agradecimento fez de Édipo rei e deram-lhe por esposa Jocasta que estava viúva. Tiveram três ou quatro filhas.
Mais tarde porém Édipo soube que o velho que matara durante o trajeto era Laios. Sabendo disso Jocasta suicidou-se. Édipo arrancou seus olhos e começou a vagar pelo mundo em companhia de uma de suas filhas.
A profecia então se cumpriu.
Todas as crianças passam durante a fase anal e a fase fálica pelo que chamamos de Complexo de Édipo.
No Complexo de Édipo, o menino se aproxima da figura materna e afasta-se da figura paterna.
A menina se aproxima da figura paterna e afasta-se da figura materna.
É uma relação de amor que a criança tem para com o genitor do sexo oposto e um ódio não menos fundado pelo genitor de sexo semelhante.
O menino sentindo-se atraído pela mãe, deseja-a e o pai que é tido como rival deve desaparecer, morrer, para que os desejos do menino sejam realizados. É uma fase de extrema curiosidade e o menino vai se servir dos buracos da fechadura da porta e do cesto de lixo no banheiro para matar sua curiosidade.
Não muito raro, no cesto de lixo no banheiro o menino encontra um absorvente utilizado e imagina que o pai está machucando a mãe com seu órgão que é muito grande. Isso faz com que o ódio pelo pai aumente de intensidade e faz com que o menino se chegue mais ainda á mãe. É comum então, o menino começar a se trajar com as roupas do pai para tentar conseguir a atenção da mãe. O que está ocorrendo é que através da imitação o menino estará se identificando com a figura masculina (o que é esperado). O menino passa a usar os sapatos do pai, sua maleta, seu chapéu, seu terno etc. na intenção de conseguir as benesses da mãe.
Surge o pai como interventor dessa relação e o menino por medo de ser castrado, abandona a figura materna pelos prazeres que o mundo oferece. É exatamente a época em que o menino começa a ir prá escolinha.
Com a menina o processo apesar de ser o mesmo ocorre um pouco diferente. Tomada de amores por seu pai a menina rivaliza-se com a mão desejando seu afastamento ou morte, para realizar seus intentos.
Na intenção de ser a namoradinha do papai, a menina se utiliza das roupas, sapatos, bolsas, batons, perfumes, chapéus, colares, anéis etc. de sua mãe para ficar mais agradável aos olhos do pai. Nesse ato de imitação está ocorrendo o processo de identificação da menina com a figura feminina (o que e esperado).
Porém surge a mão intervindo nessa relação. Mas como a menina não teme a castração, uma vez que não há o que castrar, ela não abandona tão facilmente a figura paterna. Na impossibilidade de pertencer ao pai, ela deseja então algo dele – um filho. Mais uma vez impossibilitada de realizar seu desejo, terá de se contentar em gerar um filho de outro homem. (segundo alguns teóricos, a mulher só se realizaria como mulher após conceber). A menina então abandona a figura paterna e parte em busca dos prazeres que o mundo lhe oferece.
Ainda com relação a descoberta das diferenças sexuais, a menina ao se deparar com um menino percebe que lhe falta alguma coisa. Não consegue imaginar o menino como tendo algo a mais é sim ela que tem algo de menos. Não podemos esquecer que na nossa sociedade pênis-significa poder e é o que ela não tem.
Dirão os teóricos novamente que a sensação de quem tem algo de menos em relação ao outro faz surgir a sensação de inveja. Então todas as mulheres sentiriam inveja dos homens neste sentido.
Inconformada com esse sentimento de impotência de não poder urinar longe, ou de precisar sentar para fazer xixi, a menina corre para sua mãe e a questiona. Percebe que sua mãe é semelhante à ela nesse aspecto, fazendo surgir na menina uma raiva muito grande por sua mãe tê-la feito aleijada.

- Período de Latência: (7 anos a 11/12 anos) é um período de relativo descanso . A libido deixa de
percorrer as regiões do corpo. A criança desiste das figuras parentais para se dedicarem à conquista do
mundo. Coincide com a entrada da criança na escola e a libido é transferida para a figura do professor
ou professora.
Há muita dificuldade em abandonar os benesses que os pais propiciavam. O novo é assustador e a
criança pode desenvolver algumas atitudes como o choro, a birra, a apatia ou até mesmo apresentar
problemas psicossomáticos para que os pais comovidos com seu sofrimento deixem-na ficar em casa.
É uma fase em que as opiniões opostas dos coleguinhas de classe vão entrar em choque com as suas,
nem todos os seus desejos serão realizados e a criança aprende a reconhecer o outro. É uma fase de
socialização.

- Fase Genital: (11/12 anos a ...) a libido retorna ao corpo agora na região genital que praticamente já
está desenvolvida . É o período em que o rapaz volta sua atenção para a moça e a moça volta sua atenção
para o rapaz ( isso evidentemente se durante o desenvolvimento psicossexual os distúrbios não foram
percebidos como sendo muito traumáticos ).
- Pulsão: estado de tensão que visa através de um objeto a supressão deste estado.
Eros – pulsão de vida (sexuais e de autoconservação).
Tanatos – pulsão de morte (pode ser autodestrutiva, ou estar dirigida para fora e se manifestar como
pulsão agressiva ou destrutiva).

Entre 1920 e 1923, Freud remodela a teoria do aparelho psíquico para:
- ID - sede do prazer, é regido pelo princípio do prazer (energia psíquica onde estão as pulsões).
- EGO - sede da realidade, é regido pelo princípio da realidade (regulador, mediador, mantém o
equilíbrio entre o Id e o Superego).
- SUPEREGO - valores morais, religiosos, juízo, conceitos, (origina-se do Complexo de Édipo
a partir da internalização das proibições, limites e da autoridade).
MECANISMOS DE DEFESA DO EGO:
(recalque, formação reativa, regressão, projeção, racionalização, sublimação etc)

Nosso desconhecimento portanto nossas dúvidas sobre a nossa sexualidade são inúmeras .
Apesar de ser a nossa sexualidade, ela nos aparece como algo incógnito, cheio de preconceitos, de moralismos, de dúvidas e informações incorretas. Este paradoxo – do desconhecimento de algo tão nosso – tem feito do sexo um tabu.
Forças reacionárias têm barrado a inclusão da disciplina Educação Sexual nos currículos escolares.
Consideram que não é assunto de escola, ou acreditam que educação sexual, se restrinja às informações da fisiologia e anatomia do corpo e mecanismo de reprodução.
Sexo é mais do que isso, sexo é prazer, sexo é desejo e é também proibição, perigo, erro e culpa.
A Psicologia poderá responder em parte às questões colocadas acerca da sexualidade. De acordo com a Psicologia poderemos dizer o que é o prazer, que sentimentos vêm junto com a sexualidade, e mesmo qual a diferença entre sexo e sexualidade.
Outras áreas também poderão responder sobre a sexualidade tais como a medicina, biologia, antropologia, história, sociologia e atualmente uma nova área que é a sexologia.
Sexo é instinto?
Não é bem assim. É instintivo entre os animais irracionais. Se uma cadela entrar no cio, o cachorro não vai recusá-la . Ele lutará com outros pretendentes, e o mais forte vencerá e a cadela não o recusará.
Isso não ocorre com o homem.
A escolha do parceiro sexual não é feita instintivamente, mas tem um componente racional que avalia a escolha. Pouca coisa resta no homem de caráter instintivo e a escolha sexual é feita mais pelo prazer que ela nos dá individualmente do que pela pressão da necessidade de reproduzir a espécie. Então o dado fundamental para a sexualidade humana passa a ser o prazer.
Como imaginar que uma criança de 2,3 anos ou ainda recém nascida tem vida sexual?
Quando nasce, a criança está preparada para lutar pela sobrevivência, ao sugar o leite materno auxiliada por um reflexo conhecido como Reflexo de Sucção.
Quando o reflexo de sucção desaparece a criança aprende que o contato do seu próprio dedo com a boca causa prazer. Nesse caso, o prazer não está ligado à sobrevivência mas é apenas o prazer pelo prazer que Freud chamaria de Erotismo (diz que é a primeira manifestação da sexualidade).
No decorrer de nossas vidas, investimos libido (energia sexual) em diferentes objetos que nos dão prazer.
O outro a quem amamos, é um objeto onde investimos libido.
Por quê investimos libido naquele objeto e não em outro?
A resposta é difícil, pois os fatores inconscientes envolvidos nessa escolha são muitos e diferem de pessoa para pessoa.
Para o menino pode ser alguém que se assemelhe a figura materna e para a menina a figura paterna, pode ser alguém que possua algo que se deseja e que não se possui, ou alguém que possua o que a gente possui e assim ama-se a si próprio no outro.
“Não é todo dia que encontramos aquilo que é a imagem exata do nosso desejo. Mas quando a gente encontra, sabe identificar” (Jacques Lacan).
Procuramos nos objetos do mundo algo que se assemelhe a ele. Quando o identificamos, investimos libido nele – nós o amamos.
- Amizade: é um investimento de libido que foi inibida em sua finalidade genital. O amigo, este que pode estar aí ao seu lado neste instante, é um objeto onde investimos libido.
Com isto digo que toda relação afetiva, seja ela de amor, amizade é do ponto de vista da Psicanálise, um investimento de energia sexual. Em alguns investimentos a finalidade é inibida, tornada inconsciente, sobrando na consciência um sentimento de amizade. E para Freud isto se dá também entre pessoas do mesmo sexo.
Nesses casos, as normas sociais introjetadas em nosso superego são responsáveis pela inibição da finalidade genital.
Nesse movimento de investir libido no outro, há um importante processo – identificação- através da qual enriquecemos e formamos nossa personalidade.
Ex.: quando você admira muito alguém e passa a imitar ou a possuir características que eram do outro e que agora graças a identificação são suas.

- Paixão: é o extremo do investimento libidinal no outro, ou seja, o indivíduo investe tanta libido no
outro que se eu fica enfraquecido, empobrecido a ponto de fazer tudo o que o outro deseja. É a entrega
total ao outro.
É preciso que o indivíduo num movimento de defesa de seu eu, volte a investir libido em si próprio, o
que pode significar um amadurecimento do sentimento, que de paixão (entrega total) transforma-se em
amor (investimento libidinal com enriquecimento do eu).

Por que será que o sexo é algo tão complicado, tão cheio de restrições em nossa sociedade?
Segundo a Psicanálise – energia sexual é a energia que utilizamos para tudo (trabalhar, ligar-nos a outras pessoas, divertir-nos, produzir conhecimento etc.) enfim é a energia responsável pela criação do que conhecemos como Civilização Humana. Para que este fenômeno possa ocorrer é preciso transferir energia sexual para essas produções humanas. Portanto a civilização criada pelo homem para garantir sua sobrevivência, impõe à ele restrições na utilização de sua energia sexual, deslocando-a para outros fins que não o estritamente sexual.
Entre essas restrições estão – casamento monogâmico, restrições na escolha dos parceiros, as restrições sexuais impostas às crianças, etc. Freud afirmou que o homem, em determinado momento da sua história enquanto espécie, trocou o prazer pela segurança.
A esse mecanismo de desvio de energia sexual para fins não sexuais e importantes do ponto de vista social, chamamos de sublimação. Segundo Marcuse, essa repressão de energia sexual vai além do necessário para nossa sobrevivência.
A sociedade capitalista “dessexualizou” o homem, reprimiu sua libido e a utilizou para a produção de riquezas, de acordo com o interesse de um grupo dominante na sociedade: os capitalistas. Assim nossa sociedade tem uma moral sexual repressiva.
Durante a nossa socialização internalizamos as normas e regras sociais, estamos tornando nossa essa moral sexual, com todos os seus tabus necessários à manutenção da sociedade capitalista de exploração da força de trabalho humana, ou seja, de sua sexualidade.
Internalizados os valores, o rapaz ver-se-á pressionado pelo grupo e pela sua própria consciência a ser forte, sensual, potente e experimentado. A garota viverá o drama da virgindade, o medo da gravidez, as consequências da inexperiência sexual aliadas ao fato de ter um companheiro que sabe tão pouco de sexualidade e de prazer a dois quanto ela. Infelizes sexualmente, nossos cidadãos poderão dedicar-se com todo vigor ao trabalho.
Mas não é verdade que sejamos assim tão reprimidos. A TV mostra relações sexuais a todo instante, homens e mulheres exibem seus corpos, vemos homossexuais, mães solteiras, relações sexuais fora e anteriores ao casamento etc. Isto significa que estejamos vivendo uma época de maior liberdade sexual? Não significa liberdade sexual, e sim que estamos nos comportando sexualmente exatamente da forma como a sociedade permite.
A sociedade capitalista foi capaz de ajustar o nosso prazer. E esta é uma das armas mais poderosas para se exercer o poder.
Temos assim uma consciência feliz, o que não significa liberdade.
A possibilidade de uma sexualidade que corresponda aos nossos desejos (mesmo considerando que, para haver civilização, deva haver um nível de controle e repressão) dependerá de uma luta que o jovem deve enfrentar por uma nova moral sexual, que supere o poder castrador e passe para uma fase do encontro entre o prazer e a responsabilidade.
Na medida em que introjetamos os valores sociais, não há mais necessidade de cintos de castidade, pois o policiamento é interno ao indivíduo. Se ele deseja mesmo que não realiza o seu desejo, já é suficiente para sentir culpa.
Que postura então assumir nessas situações de conflito, onde desejo e culpa muitas vezes se confundem, deixando uma forte angústia como resultado?
A resposta ainda está por se fazer e você é parte dela. A discussão do papel da sexualidade nas relações, a discussão ética do significado das regras sociais e sua justa ou injusta interdição do prazer são questões que, discutidas, ajudarão a superar a angústia da culpa que certamente trabalha no território do não-saber.

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