quinta-feira, 11 de setembro de 2008

APEGO CORPORAL COMO DEFESA DE VIVÊNCIA EMOCIONAL

TRABALHO
DE
APROVEITAMENTO DO
CURSO DE PSICOLOGIA

DISCIPLINA: PSICOSSOMÁTICA
PROFª/SUPERVISORA: REGINA RAHMI

COMPONENTES:
MEIRE AKEMI TAIRA
VALTER MARANEZI


TEMA: APEGO CORPORAL COMO DEFESA DE VIVÊNCIA EMOCIONAL

"A gente sempre espera ser alguém para descobrir, afinal de contas que é muitos".
(Raymond Devos)

INTRODUÇÃO
DEFINIÇÃO
REGRESSÃO
SOMATIZAÇÃO - PORTA VOZ DO INSTINTO DE MORTE
SOMATIZAÇÃO - ALTO RISCO DAS EMOÇÕES
CONCLUSÃO
BIBLIOGRAFIA

INTRODUÇÃO


O presente trabalho nos remete a um tema que é pouco comentado entre as pessoas.
Talvez por ele estar intimamente ligado a um tabu, que apesar das evoluções que o mundo vem sofrendo, ainda não foi totalmente derrubado - o homem como um ser indissociado, ou seja, não é só mente, nem é só corpo mas um ser holístico que interage com o mundo, que sofre e provoca modificações e está sujeito às suas emoções, constituído por sua parte bio/psíquica/social que atuam em conjunto na manutenção desse ser humano.
Pretendemos através deste trabalho, comentar alguns aspectos a respeito desse tema - APEGO CORPORAL COMO DEFESA DE UMA VIVÊNCIA EMOCIONAL - não atendo-nos ao enfoque do tratamento mas sim, nessa visão mais abrangente do homem.

PSICOSSOMÁTICA

É a história oculta da vida de um indivíduo que se inscreve no corpo.
Utilizando-se de metáforas, os nossos personagens internos buscam constantemente um palco no qual possam encenar seu roteiro de tragédias e comédias, roteiro este que foi escrito há muito tempo, por um eu infantil que luta para sobreviver num mundo de adultos.
Cada um de nós abriga em seu íntimo, uma quantidade de "personagens" partes de n~´os mesmos que freqüentemente, operam em contradição entre si, causando conflitos, sofrimentos e dor psíquica.
Face a esses conflitos psíquicos o homem é capaz de criar uma neurose, uma psicose, uma perversão sexual e obras de arte ou doenças psicossomáticas.
Artesão de si mesmos essas estruturas lhe garantem um falso eqüilíbrio e um sentimento de identidade e por esta razão, uma resistência ferrenha se ergue contra tudo que possa abalar essa fortaleza psíquica.
O sujeito empenha-se em manter essas estruturas, porém não se dá conta de que muitas vezes, essas mesmas estruturas podem representar a fonte de seu sofrimento.
Entre essas manifestações, falaremos neste trabalho das manifestações psicossomáticas.

REGRESSÃO

O indivíduo psicossomático, pela dificuldade de simbolizar suas emoções, regride a um estado primitivo de desenvolvimento emocional para denunciar seus conflitos internos.
Tal qual o bebê que ainda não possui recursos próprios para expressar verbalmente suas emoções, conflitos internos, desejos e que por esta razão, utiliza-se do seu corpo para expressá-las.
O indivíduo tem um agir de caráter compulsivo que se manifesta na tentativa de compensar uma falha na simbolização, conseqüentemente, uma hiperatividade que o impossibilita entrar em contato com seus sentimentos e suas emoções.
A maneira de um indivíduo psicossomático se expressar, bem como seu relacionamento com o outro e consigo mesmo, seus pensamentos são permeados pelo conceito de PENSAMENTO OPERATÓRIO.
É um modo de expressão desvitalizado, ou seja, é uma maneira racional e concreta de ser.
O indivíduo não tem palavras para nomear seus estados afetivos (ALEXITIMIA) predominando uma pobreza no conteúdo verbal.
A alexitimia surge como defesa contra a experiência de uma vivência emotiva que parece ameaçadora para a integridade do indivíduo, mantendo assim um estado de morte interior.

SOMATIZAÇÃO - PORTA VOZ DO INSTINTO DE MORTE

A somatização, ao contrário de outos fenômenos mentais, está aliada ao instinto de morte, ou seja, o desejo de continuar vivendo parece no mínimo inapropriado.
Percebemos isso na violenta agressão que o indivíduo desfere contra o próprio corpo, na tentativa de bloquear seus desejos, ou então, ao invés de satisfazer seus estados afetivos, afundará numa inércia psíquica que nada mais é do que um retorno ao estado mais primitivo do ser humano - indiferenciação (simbiose).
Provavelmente isso se deve ao estado de proteção, cuidados e carinho em que se encontrava nesse estado, não necessitando entrar em contato com a sua realidade.

SOMATIZAÇÃO - O ALTO RISCO DAS EMOÇÕES

Até que ponto o estado emocional influencia o desenvolviment das doenças?
Temos que nos dar conta que o corpo não é só um conjunto de órgãos, mas uma unidade viva que a natureza de cada um regula e harmoniza.
Assim sendo, não se relega a um segundo plano o papel das emoções no desenvolvimento das doenças.
Sinal de alerta: emoções não vivenciadas podem gerar sérias doenças.
Não se separa mente do corpo. Dizemos isso para lembrar a mentalidade organicista ainda hoje vigente nas escolas de medicina que insistem em separar o que é da mente e o que é do corpo.
Os médicos e estudantes de medicina têm uma dificuldade muito grande em aceitar o que é INCONSCIENTE.
Pode-se afirmar que o desenvolvimento das doenças pode também ser determinado pelas emoções.
Um fator de predisposição genética aliado ao fator psicológico leva ao desencadeamento de doenças.
Isso significa que durante períodos de tensão, quando ocorre alterações hormonais, um indivíduo pode apresentar os sintomas de uma doença para a qual tenha uma predisposição hereditária.
A relação que o indivíduo tem com seus transtornos é cheia de mal entendidos.
As fantasias inconscientes são determinadas no período de zero a sete anos de idade - fase importantíssima para a formação da personalidade e de todas as doenças que podem vir a se desenvolver posteriormente.
Observa-se que por trás da queixa clínica se escondem as dificuldades emocionais.
A ansiedade está sempre aliada à doença.
Em cardiologia duas coisas chamam a atenção - a influência das emoções na somatização e na hipertensão arterial.
O próprio infarto muitas vezes está ligado a uma situação para a qual o indivíduo não vê saída.
Quando a pessoa não consegue exprimir sua angústia, seu organismo acaba falando por ela através de um sintoma de uma doença.
O fenômeno psicossomático é algo primitivo onde o homem usa um órgão para se defender.
Quando não suporta a dor mental, ele sacrifica o corpo para não sacrificar a mente.
Então pode-se dizer que isto é uma tentativa desesperada de se manter vivo.
A psicossomática como está sendo vista agora, pode mostrar o organismo da pessoa também como sede de uma série de conflitos, como um lugar onde acontecem ilusões e destruições por falta de adaptação.
Há a necessidade de se fazer uma retradução para que a pessoa possa se escutar mais, porque a maioria delas nunca teve contato consigo mesmo.
O importante é trazer a informação de que elaborando melhor as próprias necessidades, abrem-se outras possibilidades de afeto, pode-se viver sem o medo e tensão, como se estava vivendo e, conseqüentemente, protegendo o próprio corpo.


DESCRIÇÃO DE DOENÇAS

Hipertensos e infartados podem aprender a controlar os sintomas.
Os indivíduos infartados têm histórias de vida muito semelhante às dos pais e a grande maioria apresenta um antecedente da doença na família.
A pele, como órgão exposto, é o veículo ideal para chamar a atenção - ter escamações ou manchas na pele é como dizer: "Preciso de ajuda".
O melanócito tem ligação com o sistema nervoso central principalmente quando se verifica o fator emocional marcando o surgimento do vitiligo.
É notório que quando se começa a discutir a causa emocional que foi marcante e atuou como desencadeador da lesão, algumas pessoas começam a pgmentar.
O vitiligo no pênis e na vagina não é aparente mas é evidente para a relação com o outro.
De qualquer maneira, o vitiligo - uma patologia não contagiosa - impõe-se sempre como uma barreira na relação com o outro.
A psoríase - lesões escamativas que podem se transformar em feridas - também é algo que serve como anteparo à barreira na efetivação de uma relação.
O herpes simples, labial ou genital (dois locais de bastante importância na relação com o mundo) é também uma patologia de fundo psicossomático.
Através do herpes, o indivíduo coloca para fora uma afeição.
O estresse e a tensão emocional são dois fatores que contribuem para o seu desencadeamento.
A dor na relação sexual pode ser um problema psicossomático.
Entre as patologias de fundo psicossomático tipicamente femininas há a dispareunia, dor vaginal qua aparece durante a relação sexual.
Verifica-se que houve um trauma que processou na infância ou um trauma real como uma experiência mal sucedida.
Muitas vezes a dor no relacionamento sexuaal ilustra a tentativa de evitar entrar num processo de identidade feminina.
Descartadas as causas orgânicas, a esterilidade feminina é outra patologia atribuída a fatores psicossomáticos.
A negação da gestação é uma das doenças que pode ser também psicossomática.
São bloqueios que acontecem na pessoa e que impedem a realização de uma função.
O câncer de mama também é uma patologia típica nessa abordagem psicossomática - as mulheres mal amadas, que tiveram dificuldades de serem aceitas na infância, com negação de carinho, apresentam maior incidência de câncer de mama porque o seio é o primeiro contato que se tem na relação afetiva.

CONFLITOS SEXUAIS MASCULINOS

Os três grandes conflitos que o homem enfrenta são a ejaculação retardada, precoce e a impotência.
A própria impotência pode ser muitas vezes produto da ejaculação precoce na medida em que o homem vai se sentindo frustrado por não satisfazer a mulher, vive a antecipação da falha nas relações posteriores, desenvolvendo grande estado de tensão.
A maioria dos homens que procura ajuda terapêutica, o fazem já em estado avançado, quando se estabeleceu um conflito entre o casal.
Na gastroenterologia as patologias onde se observam mais claramente o componente psicossomático são as doenças funcionais do aparelho digestivo, que envolvem uma tividade motora e escretora exagerada.
A úlcera gastroduodenal desenvolve-se como episódio da vida do indivíduo, em decorrência de conflitos não resolvidos e que ficam albergados em seu mundo inconsciente.
A retocolite ulcerativa é uma doença de etiologia desconhecida mas que encontra nos fatores emocionais condições para uma exagerada atividade motora e secretora dos intestinos chegando a evacuações com emissão de muco, catarro e sangue.
Portadores dessa doença carregam uma neurose desde a infância.
São pessoas que pouco usam a palavra, extraordinariamente fechadas, não tomam atitudes em defesa de seus interesses, têm grande temor a autoridade paterna e nítida fixação materna.
Quando a realidade impõe uma decisãao frente a vida desses indivíduos, pode eclodir a doença, ou seja, o corpo manifesta esse conflito íntimo.
A retocolite ulcerativa não é doença rara e pode levar à morte precocemente. Quando isso acontece, essas pessoas ou não foram tratadas ou possuem um desejo inconsciente de morte muito forte (instinto de morte).
As pessoas que vivem tensas, sob estresse contínuo, causando a si próprio angústia, ansiedade e pânico, predispõem-se mais à essa doença.
A asma está relacionada a ressentimentos passados com relação aos pais no período da infância, ressentimentos estes que não puderam ser expressados e que na fase adulta, aparecem em forma de sintoma orgânico.


CONCLUSÃO

"Para curar o corpo humano é necessário ter-se um conhecimento das coisas como um todo". (Hipócrates)

Gostaríamos de deixar como conclusão de nosso trabalho, a imprtância de percebermos o ser humano como um ser holístico.
Embasados nesta visão, nós enquanto profissionais ligados à área da saúde, e todos aqueles que têm como essência o estudo do homem, poderíamos estar deixando de lado a parte da nossa onipotência e estarmos mais receptivos às contribuições e conhecimentos do outro.
Acreditamos que só assim poderíamos ter uma vaga noção dessa tão complexa e importante estrutura que é o HOMEM.
Procurar estarmos mais atentos, não só a sintomatologia em si, mas também percebermos qual é a mensagem que o paciente está querendo nos transmitir daquilo que está sendo tão insuportável a ponto de se prejudicar fisicamente.
A psicossomática como visão de medicina integral pode ser traduzida por menos medicação e mais compreensão ao paciente.


BIBLIOGRAFIA

ANZIEU, D. O Eu - Pele.
DEJOURS, C. O Corpo entre a Biologia e a Psicanálise.
DEJOURS, C. Repressão e Subversão em Psicossomática.
Mc Dougall, J. Teatros do Corpo.
Mc Dougall, J. Teatros do Eu.

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