domingo, 7 de setembro de 2008

MÃE SOLTEIRA - Num enfoque sociológico

UNIVERSIDADE PAULISTA
Curso: Psicologia.
Disciplina: Psicologia Experimental I (PEX I)
Turma: 3P5

20.725 Adriana Noronha da Silva
19.557 Andrea Minello
18.741 Eduardo M. Lopes
18.921 Kelly Bonadio O Ramos
18.755 Maria Célia Matos
21.667 Neide Craid
22.957 Sérgio Ricardo de Campos
20.309 Valter Maranezi


POEMA À MÃE SOLTEIRA

Esquece, amiga, se restam tristezas,
caso fostes no amor injustiçada;
nos corações maternos há grandezas
que apagam a solidão de uma jornada...

E não descuides nunca da estrada
das tempestades, em fatais surpresas;
és mãe, igual as outras, consagrada
e amada podes ser em profundezas...

Quando escuto cantares bem baixinho,
embalando em vigílias teu filhinho,
vejo uma santa muito enternecida...

Mensageira da vocação suprema
das mulheres, eu te oferto este poema,
e que sejas feliz em toda a vida...

Germano Barros de Souza.
do "Correio do Estado", Campo Grande,
12-13 de março de 1977.


DEPOIMENTOS

"Eu namorava um rapaz fazia dois anos, quando engravidei. Então assumi sozinha a situação, mesmo ele dizendo que nós íamos ficar juntos. Quando entrei no segundo mês de gravidez, ele deixou um bilhete na portaria do meu prédio e sumiu. Eu me senti muito deprimida, pois era uma situação pela qual eu nunca tinha passado, então o desespero tomou conta de mim; eu senti muita falta dele, afinal tínhamos um relacionamento de mais de dois anos. Ele fugiu da situação e eu fiquei sozinha.
Daí começou o conflito na minha cabeça: como vou falar para meu pai, como enfrentar tudo? Eu precisava dele para um apoio moral. Nessa hora, realmente, eu precisei dele e ele não estava presente.
Então, depois que minha filha nasceu e tudo estava resolvido, porque voltar com ele? Eu já tinha enfrentado uma sociedade cheia de preconceitos e, o pior, a família.
Eu tive uma criação muito rígida. Quando fiquei grávida, solteira, não foi fácil meu pai aceitar porque para ele eu tinha feito uma coisa errada, e não era daquele jeito que ele havia me ensinado. Ele se preocupou até com o que as pessoas iriam pensar a meu respeito. A barra foi pesada demais, só com o passar dos meses foi que ele se conscientizou que tudo era realidade.
Quando o rapaz me deixou eu fiquei revoltada, angustiada, me senti rejeitada, enfim fiquei numa pior. Mas, com muita fé em deus, fui à luta e consegui vencer sozinha todos os obstáculos que encontrei pela frente. Quando a menina nasceu, eu já não precisava mais dele, pois tudo já estava bem e minha família estava me apoiando.
Ficamos sem nos ver por mais de um ano. De repente, ele apareceu para conhecer a criança e começou a freqüentar a minha casa, e o envolvimento começou novamente.
Quando a menina tinha nove meses de idade ela quase morreu (teve um derrame cerebral, ficando totalmente paralisada do lado direito).
Daí a família dele, que nunca quis o casamento, começou a pressionar para nós nos casarmos, pela situação da criança. Na época eu já não queria mais me casar: o pior já tinha passado sozinha, e o que eu sentia por ele já não era a mesma coisa, pois eu tinha ficado muito magoada com as atitudes dele.
O tempo foi passando e, quando a criança tinha um ano e seis meses, o casamento se concretizou, por pressão das famílias, porque para elas a situação não era normal: eu solteira, com uma criança, na situação que estava, precisava da mãe e do pai juntos.
As famílias acham que o casamento é a solução. Na minha opinião, não é. Vivemos juntos apenas oito meses, quando de repente, ele juntou tudo o que era dele e voltou para a casa dos pais. Se eu não tivesse me casado, teria evitado passar várias coisas desagradáveis: casamento com a pessoa errada, separação, desquite etc. Então, tudo voltou como antes, eu sozinha criando minha filha.
(Ana, março, 1988)

Menina e moça, que poderia ser manequim bem sucedida, traz a criança, aconchegada e rechonchuda.
"Sou mãe solteira. Ele prometeu casar comigo, mas não cumpriu o prometido. Quando nasceu esta menina, faz quinze dias, ele saiu sem dizer nada, e não voltou. Nem vai voltar. Eu me enganei pensando que ee tinha caráter. Não tinha não, não vale nada. Agora estou com minha filha (beija a criança) para criar. Até agora meu pai cuidou. Mas eu queria me empregar. O senhor tem algum emprego? Eu sei fazer qualquer trabalho".
(A.H.) Publicado em Mulher Libertação, 1985, nº 3, p. 62.

"Ao saber de minha gravidez, fiquei um pouco insegura e um pouco confusa. Não sabia como iria dar a notícia a meus familiares.
O comportamento do meu companheiro foi uma decepção para mim. Senti nele uma pessoa fria diante de uma situação que eu não sabia como agir.
Percebi em seu rosto uma resposta assim: "Que se dane você; não quero nem saber".
Diante do ocorrido, os dias, os meses, os segundos iam passando, quando resolvi contar a notícia a minha família. Confesso que foi um "choque" para todos. Mesmo assim não me abandonaram, não me criticaram, e sim me deram a maior força do mundo. Eu já não estava mais sozinha.
Enfrentei diversos tipos de reação, senti em cada rosto das pessoas um pouco de discriminação. Umas diziam: "-Nossa! Fulana casou. Ninguém soube, e já está de barriga!". Outras diziam: "-Você é maluca! vai enfrentar essa barra sozinha. Você não pensou no aborto?"
Agora, neste momento, estou refletindo, escrevendo um pouco da minha vida, o que passei, lembrando as olhadas viradas das pessoas quanto ao meu estado. Hoje, posso dizer que sou a mulher mais feliz do mundo, e também que sou mãe de um lindo garoto de quatro aninhos.
Eu diria o seguinte a alguém que esteja passando pelo mesmo problema por que eu passei: "Assuma o seu erro e não vá pela cabeça dos outros. Seja mulher bastante para assumir o erro. Afinal de contas a criança não tem culpa de nossos erros, e ser mãe é a coisa mais linda do mundo".
(Célia, agosto, 1988).

"Tenho 37 anos. Meu filho tem, agora, 5 anos.
Eu era telefonista, lá no Nordeste e essa a minha profissão. Vim para São Paulo sozinha, para melhorar de vida, e aqui encontrei, há treze anos, meu companheiro. Era separado da mulher.
Começamos a namorar, durante três anos. Depois ficamos juntos. Após estarmos juntos cinco anos, nasceu meu filho.
Em São Paulo, sempre fui empregada doméstica. Mas agora vou voltar pra minha terra, pois ele continua bebendo. E pena, pois ele é trabalhador, não é mulherengo. Mas bebe demais, e quando bebe fica muito agressivo, até já me bateu. Não aguento mais. Já me separei dele e vou voltar pra minha terra, com meu filho. Eu nem quis dar o nome dele no registro do menino. Assim ele não pode criar problemas".
(Maria, abril, 1988).

"Eu sou formada, sou professora, mas não exerço. Escrevo à máquina, sei costurar, sei czinhar o trivial e o requintado.
O nome dela? É Alessandra.
O rosto belo, bem cinzelado, segue feliz os movimentos calmos, suaves, da filha amada.
O senhor tem algum emprego?
Antes que eu possa dar a resposta, diz com firmeza: -Só quero emprego onde Alessandra fique comigo. Eu não consigo me separar de minha filha, nem confiá-la a qualquer um".
Leoa Brava, de amor total.
(A.H)
(Publicado em Mulher Libertação, 1985, nº 3, p. 62

MÃE SOLTEIRA

Em nossa sociedade a expressão "Mãe solteira", possui uma conotação pejorativa; indicando alguém, inconseqüente, leviano e sem respeito para com sua família e à sociedade.
A partir dai, deve-se distingüir os tipos de mães solteiras:

- a moça solteira que adota um ou vários filhos.
- a moça solteira que social e familiarmente bem ou mal integrada, pretende ter um filho sem assumir um casamento.
- a moça violentada.
- a namorada imprudente.
- a moça promíscua.
- a prostituta.

Todas essas mulheres têm em comum serem mães; terem a responsabilidade de como mãe atenderem a parte afetiva e emocional que o filho necessitar.
Essas quatro última também têm em comum, terem recusado o aborto, respeitando a vida de seu filho.

A MOÇA SOLTEIRA QUE ADOTA UM OU VÁRIOS FILHOS

Essas moças, renunciam ao casamento e a ter filhos; adotando uma ou várias crianças; buscando com isso preencher um vazio afetivo.
Devido a esse motivo, reside aqui o problema desse tipo de mãe. Por causa de seu motivo de preencher o vazio, isso torna-se egoísta e insuficiente para sustentar anos a fio os sacrifícios inerentes a uma tutela ou a uma adoção.
Essa mãe deve se preocupar, com a procedência da criança, saber se essa não foi roubada ou tirada indevidamente de seus pais. Deve haver a preocupação de iniciar a tutela e depos passar à adoção, para a mãe conhecer a criança, seus problemas, pois muitos se apresentam posterior ao nascimento; dando tempo para a mãe aceitar assim a criança como ela se apresenta.
Com o passar do tempo, essa mãe deve dizer ao filho que ele foi adotado e posteriormente se o filho quiser conhecer seus pais verdadeiros, ela deve facilitar essa procura, nunca devendo enganar o filho.

A MOÇA SOLTEIRA QUE QUER TER UM FILHO SEM SE CASAR

Normalmente esse tipo de mãe, aparece depois de casamentosmal sucedidos, criando assim, um terror por esse tipo de relação.
Evidente que toda criança para ser aceita, identificar e para se entrosar na vida social, necessita de um pai de uma mãe; apesar dessa mãe, impedir a si mesmo a presença masculina nessa relação.
Essa mulher que busca esse tipo de linha, normalmente é vista como egoísta e leviana; buscando no filho uma auto-afirmação.
Por outro lado, o fato de ter um filho, pode reeqüilibrar de vez essa mulher, supondo-se que tenha necessidade disso, reintegrando-a psicologiacamente ao c´rculo das "mulheres normais".

A MOÇA SOLTEIRA QUE FOI VIOLENTADA

Apesar de muitos casos não serem divulgados, essa é uma prática, que ocorre com muita freqüência; onde devido a gravidade desse tipo de caso, o Código Penal Brasileiro, prevê a legalidade de provocar o abôrto.
Dentro deste assunto ocorre freqüentemente num contexto de incesto; e ai a família muitas vezes esconde o fato, tentando evitar a desintegração total de seus membros.
Nestes casos o abôrto aparece como uma solução, mas também pode ser visto como mais uma violência sofrida pela mulher, tanto fisicamente como psicologiacamente; neste ponto referindo-se ao trauma que o abôrto pode gerar.

A NAMORADA IMPRUDENTE

Esse, sem dúvida, é o caso mais freqüente; as vezes por ignorância e até porque o namorado promete casamento "se deixa fazer" ou faz chantagem à infertilidade.
Nestes casos muitas vezes o namorado propõe o abôrto; e se a namorada não aceita, joga toda responsabilidade na mulher.
Neste caso a família é a primeira a pressionar, achando-se traída, rejeita, condena, censura e propõe o abôrto.
O casament muitas vezes surge como solução, a todos os problemas, mas ai os futuros pais nem sempre aceitam essa resolução.
Depois do nascimento da criançaa muitas vezes essa mãe consegue um relacionamento tão profundo e gratificante com o filho, que um outro relacionamento mais exterior com o pai da criança parece, se não totalmente inútil, pelo menos secundário.
Para esse tipo de caso pode-se concluir que o melhor seria que a moça ficasse co sua família, pelo menos até que a gravidez, seja perceptível, e depois do parto.

A MOÇA PROMÍSCUA

A palavra promíscua aqui, não denota o mesmo que prostituta; ela denota uma moça com uma vida sexual instável, com parceiros diversos; sem a preocupação de uma ligação mais profunda.
Essa moça quando engravida se sente lesada, se culpa e cai num profundo sentimento de auto-desvalorização.
A gravidez à vezes é a primeira coisa importante que ocorre à esta moça, podendo dar a ela a chance para organizar sua vida.
Muitas dessas mães pensam em abandonar o filho mas poucas mantém essa decisão; normalmente buscam auxílio numa das instituições do Amparo às Mães Solteira, sacrificando certas ações para se manterem junto ao filho.

A MOÇA PROSTITUTA

Muito comumente a mãe solteira ocorre antes de sua prostituição. Normalmente a moça tem um filho e sem condições e sem apoio, se prostitui como forma de sobrevivência.
Quando a prostituta engravida, na maior parte dos casos, faz o abôrto, para evitar uma complicação maior na sua vida.
SWe a prostituta resolve ter o filho normalmente o coloca com pessoas para tomar conta dele, visitando-o em finais de semana, sempre tentando esconder o seu trabalho.
Nos casos em que a mãe não consegue ou não tem condições de ter uma pessoa para cuidar do filho, este vive na rua e com o passar do tempo, trabalhando nos mesmos lugares que a mãe.

E OS PAIS SOLTEIROS?

Nestes casos os pais solteiros são em geral tirados de suas responsabilidades, jogando-as para a mulher.
Normalmente esse fogem ou desaparecem, não dando nenhum tipo de auxílio à mulher.
Esses homens se comportam levianamente, pensando somente em si e no seu futuro, não havendo um interesse pela mulher, nem pelo filho que nascerá.

A SOCIEDADE GLOBAL. AS IGREJAS E A MÃE SOLTEIRA

Ocorre nessa sociedade, com crescente aumento desses casos, a mulher conseguia pelo menos a aceitação, mesmo em muitos campos, ser impossível sua entrada.
A idéia do abôrto é condenada pela maioria apesar das dificuldades que essa mulher terá para criar a criança.
Nos casos de adoção essas mulheres são bem aceitas e apoiadas por familiares e amigos; apesar desses casos serem menos necessários esse apoio do que nos casos de gravidez sem pais.

O RESPONSÁVEL PELA GRAVIDEZ

Falarmos a respeito do responsável, não está ligado apenas ao da mãe solteira, mas sim de toda uma sociedade que permite certas liberdades e irresponsabilidades da parte do sexo masculino, pela falta de sanção aos seus atos.
Na maioria dos casos, o rapaz ao vê-la grávida a abandona, fugindo à sua responsabilidade de pai, alegando que o filho pode não ser dele, por não ter sido o primeiro a ter relação sexual com a moça. Sem contar que muitas vezes os rapazes são casados.
Sem querermos culpar apenas uma das partes pelo nascimento de crianças "sem pai" é preciso salientar que, se também a moça é responsável por esta situação, a sua culpa fica diminuída, pelos sofrimentos e lutas durante o período de gravidez.

O FILHO DA MÃE SOLTEIRA

A gravidez para uma moça solteira acarreta-lhe sempre sérios problemas, que em geral, lança mão de todos os meios para ocultar ou mesmo abortar.
Durante os primeiros meses de vida para esta criança é bastante penosa, pois a moça ainda não teve tempo suficiente para se adaptar à condição de mãe, corresponder quase sozinha pela falta de auxílio e orientação nesta difícil tarefa. O seu instinto materno ultrapassa os preconceitos e vemos então aquela moça indecisa em aceitar ou não o filho e que muitas vezes pensou em abortar, querer a criança junto a si disposta a vencer todos os obstáculos. Muito ao contrário do que se pensa a mãe solteira não quer dar seu filho para adoção.
Podemos citaar um caso de uma moça que ao saber que estava ghrávida, tinha medo de seus pais saberem e começou a usar uma cinta para esconder a barriga. Quando foi ter o seu filho, internou-se no Amparo Maternal, e pediu para não contar para a família. A família pensava que a moça estava com problemas de rins. Ao dar a luz, a moça teve alta e a criança teve que ficar no hospital.
A moça voltou para o Amparo para ver seu filho e descobriu que ele não iria sobreviver, isto porque ela usou cinta durante a gravidez toda. Podemos concluir o que não se faz pelo medo da família ao descobrir que estaria grávida. No hospital a assistente social falhou deixando escapar uma oportunidade quando a paciente citou o fato de usar cinta durante a gravidez e ter medo do abôrto. Poderia aqui ter perguntado à paciente se não lhe ocorreu que a criança viria a sofrer por ficar assim comprimida, podendo mesmo matá-la.

O PROBLEMA PROFISSIONAL

Este é um aspecto de grande relevância na situação da mãe solteira, sendo que para um ajustamento adequado da mãe na sociedade ela precisa de um amparo econômico em contraste com sua condição de mãe, onde a criança necessita de todo o tempo de atenção, cuidados e carinho.
Uma grande parcela de mães solteira, são mulheres que devido a sua situação social trabalham como domésticas, e neste caso fica difícil muitas vezes conciliar sua vida profissional com sua responsabilidade materna, pois em muitas casas onde a doméstica trabalha não é permitido a presença do filho.
Uma das soluções que esta mulher encontra está em casas onde a criança é aceita e a doméstica dorme e reside na casa onde trabalha. Outra solução é deixar o filho com parentes ou na creche, se o salário permitir.
Outro fator importante para o complexo problema profissional da mãe solteira, está na sua situação social, onde muitas mulheres emigram de outras regiões menos favorecidas para regiões onde as "oportunidades" profissionais são maiores, e vivem numa situação precária tanto para ela quanto mais para o seu filho. Outras mulheres são discriminadas por sua família e não recebem ajuda dos mesmos.
A situação escolar, o nível cultural destas mulheres também é deficiente, muitas são analfabetas, semi-alfabetizadas limitando ainda mais o seu campo para uma situação profissional mais vantajosa.

CONCLUSÃO

Os ítens apresentados na introdução ficam aquém da extensão e profundidade do problema abordado, pois acreditamos que a condição de mãe solteira se coloca em linhas gerais a margem de outros tantos problemas similares que têm origem na má organização de uma sociedade, onde o erro é mais de estrutura so que propriamente individual.

I - QUANTO AO SERVIÇO SOCIAL JUNTO ÀS MÃES SOLTEIRAS

Há uma carência relevante de pessoal especializado para o atendimento da mãe solteira. Geralmente quem dá atendimento a essas mulheres, são assistentes sociais ligadas a assistência à família e portanto não treinadas a contento, para a devida orientação.

II - QUANTO AO SERVIÇO SOCIAL À MÃE SOLTEIRA NA L.B.A.

As gestantes solteiras passam pelo serviço de várias agências antes de serem encaminhadas a L.B.A. Tal procedimento intimida e muito a futura mãe que a cad agência que chega, tem que narrar sua história. O ideal seria que essas mulheres fossem encaminhadas diretamente à Casa Maternal, para o devido tratamento e encaminhamento.
Grande número de pacientes não têm para ir depois de dar à luz e forçosamente entregam-se à vida da prostituição.
Apesar de já estar havendo uma preocupação com o problema da mãe solteira, este é ainda desconhecido na sua realidade, sendo muitas vezes mal compreendido.

ENTREVISTAS

DADOS PESSOAIS:

Nome: Vilânia
Idade: 22 anos
Profissão: Doméstica
Grau de escolaridade: 5ª série
Atividade que exerce atualmente: Trabalha em casa
Quantidade de filhos: 2 (casal - 3 anos/2 meses)
Renda familiar: salário mínimo.

1 - Com que idade teve a suaa primeira relação sexual?
12 anos
2 - Você utilizava algum cuidado para não engravidar? Qual?
Nenhum
3 - Qual foi a primeira pessoa que você procurou quando soube que estava grávida?
Mãe
4 - Como seus pais reagiram ao saber de sua gravidez?
Mãe apoiou e pai contra no início
5 - Que atitude seu parceiro teve ao saber de sua gravidez?
Não gostou, nem assumiu
6 - Onde você foi morar?
Com os pais
7 - Você chegou a pensar na hipótese de abortar?
Não, mas algumas amigas sugeriram
8 - Quais são suas expectativas de futuro?
Melhorar de vida e sair da favela
9 - Sua vida sexual mudou após a gravidez?
Sim

Nome: Ednéia
Idade: 21 anos
Profissão: Estampadora
Grau de escolaridade: 5ª série
Atividade que exerce atualmente: Estampadora
Quantidade de filhos: 1 (3 anos)
Renda familiar: 2 1/2 salários mínimos

1 - Com que idade teve a sua primeira relação sexual?
15 anos
2 - Você utilizava algum cuidado para não engravidar? Qual?
Nenhum
3 - Qual foi a primeira pessoa que você procurou quando soube que estava grávida?
Mãe
4 - Como seus pais reagiram ao saber de sua gravidez?
Pai fera e mãe com medo do pai
5 - Que atitude seu parceiro teve ao saber de sua gravidez?
Assumiu sem casamento
6 - Onde você foi morar?
Morou junto com o pai da criança
7 - Você chegou a pensar na hipótese de abortar?
Não, algumas amigas sugeriram o abôrto
8 - Quais são suas expectativas de futuro?
Abrir mão de um monte de coisas
9 - Sua vida sexual mudou após a gravidez?
Não (normal)

Nome: Antonia
Idade: 23 anos
Profissão: Nenhuma
Grau de escolaridade: 1º ano primário
Atividade que exerce atualmente: Cuida do filho
Quantidade de filhos: 1 (1 ano e 1 mês)
Renda familiar: 1 salário mínimo

1 - Com que idade teve a sua primeira relação sexual?
18 anos
2 - Você utilizava algum cuidado para não engravidar? Qual?
Nenhum
3 - Qual foi a primeira pessoa que você procurou quando soube que estava grávida?
Nossa Senhora de Aparecida (Santa) e o médico
4 - Como seus pais reagiram ao saber de sua gravidez?
Pai, não falou nada
5 - Que atitude seu parceiro teve ao saber de sua gravidez?
Atitude de cachorro, ele quis me bater, matar e que eu abortasse
6 - Onde você foi morar?
Com a irmã
7 - Você chegou a pensar na hipótese de abortar?
Não
8 - Quais são suas expectativas de futuro?
Ter uma casa própria para o filho
9 - Sua vida sexual mudou após a gravidez?
Não


Nome: Cintia
Idade: 15 anos
Profissão: Estudante
Grau de escolaridade: 5ª série
Atividade que exerce atualmente: . x .
Quantidade de filhos: 1
Renda familiar: Não sei

1 - Com que idade você teve a sua primeira relação sexual?
13 anos
2 - Você utilizava alguj cuidado para não engravidar? Qual?
Não
3 - Qual foi a primeira pessoa que você procurou quando soube que estava grávida?
Amiga
4 - Como seus pais reagiram ao saber de sua gravidez?
Pai chateado, mãe reagiu normal
5 - Que atitude seu parceiro teve ao saber de sua gravidez?
Feliz
6 - Onde você foi morar?
Com seus pais (pai da criança morou um tempo na casa da mãe dela)
7 - Você chegou a pensar na hipótese de abortar?
Não, mas minha mãe sugeriu
8 - Quais são suas expectativas de futuro?
Estudar, trabalhar, ser alguém
9 - Sua vida sexual mudou após a gravidez?
Mudou

Nome: Roselene
Idade: 28 anos
Profissão: Diarista
Grau de escolaridade: 3ª série ensino médio
Atividade que exerce atualmente: Diarista
Quantidade de filhos: 1 (4 anos)
Renda familiar: + ou - 4 salários mínimos

1 - Com que idade você teve a sua primeira relação sexual?
19 anos
2 - Você utilizava alguim cuidado para não engravidar? Qual?
Sim, pílula Perlotan
3 - Qual foi a primeira pessoa que você procurou quando soube que estava grávida?
Ninguém, médico (escondeu a gravidez até o 6º mês)
4 - Como seus pais reagiram ao saber de sua gravidez?
Quase apanhou e foi expulsa de casa
5 - Que atitude seu parceiro teve ao saber de sua gravidez?
Acusou-me de ter planejado a gravidez para agarrá-lo
6 - Onde você foi morar?
Santo Amaro, durante a gravidez trabalhando de empregada até a criança nascer
7 - Você chegou a pensar na hipótese de abortar?
Pensei e desconhecidos sugeriram
8 - Quais são suas expectativas de futuro?
Trabalhar em hospital
9 - Sua vida sexual mudou após a gravidez?
Sim


Nome: Silvia
Idade: 27 anos
Profissão: Promotora de vendas
Grau de escolaridade: 8ª série
Atividade que exerce atualmente: Promotora de vendas
Quantidade de filhos: 1
Renda familiar: 2 ou 3 salários mínimos

1 - Com que idade você teve a sua primeira relação sexual?
19 anos
2 - Você utilizava algum cuidado para não engravidar? Qual?
No início não, após a gravidez sim.
3 - Qual foi a primeira pessoa que você procurou quando soube que estava grávida?
Mãe
4 - Como seus pais reagiram ao saber de sua gravidez?
Naturalmente, pois ela era independente financeiramente
5 - Que atitude seu parceiro teve ao saber de sua gravidez?
Não soube
6 - Onde você foi morar?
Com minha mãe
7 - Você chegou a pensar na hipótese de abortar?
Não
8 - Quais são suas expectativas de futuro?
Encontrar um príncipe encantado
9 - Sua vida sexual mudou após a gravidez?
Não


Nome: Andréia
Idade: 20 anos
Profissão: Balconista
Grau de escolaridade: 7ª série
Atividade que exerce atualmente: Balconista
Quantidade de filhos: (2 anos e meio)
Renda familiar: 2 1/2 salários mínimos

1 - Com que idade você teve a sua primeira relação sexual?
17 anos
2 - Você utilizava algum cuidado para não engravidar? Qual?
Não
3 - Qual foi a primeira pessoa que você procurou quando soube que estava grávida?
Médico
4 - Como seus pais reagiram ao saber de sua gravidez?
Surpresos, com aceitação
5 - Que atitude seu parceiro teve ao saber de sua gravidez?
Gostou, pois eu ficaria nas "mãos" dele
6 - Onde você foi morar?
Casou com 5 meses e foi morar junto
7 - Você chegou a pensar na hipótese de abortar?
Pensei, mas não tive coragem
8 - Quais são suas expectativas de futuro?
Estudar, ter o próprio trabalho e sustentar o filho
9 - Sua vida sexual mudou após a gravidez?
Depois da separação sim


CONCLUSÃO DAS ENTREVISTAS

Apesar do crescimento econômico-social em que passa o Brasil, o número de casos de mães solteiras tem aumentado.
São mães que precisam trabalhar para seu sustento e o de seu rescém nascido filho.
Determinar a causa de tal fato chega ser quase impossível. Aí reunidos estão os fatores de hereditariedade e o meio, isolados ou combinados com o caráter da mãe.
A condição sócio-econômica dessa parte da população brasileira geralmente é baixa.
Veremos alguns aspéctos da mãe solteira que talvez tenha contribuído para essa sua posição perante a sociedade.

1 - Ambiente familiar: Na maioria dos casos a mãe solteira tem contatos insuficientes com o que se considera família. Ex.: geralmente provém de lares desfeitos, onde o pai é ausente, onde há os chamados padrastos, madrastas etc.
A falta de diálogo com os pais é apontado pelas próprias entrevistadas, como um fator gerador da sua condição de mãe solteira.

2 - Nível de instrução: Poucas são as que conseguem manter um curso escolar completo (algumas mal completam o curso primário), pois existe a necessidade de trabalhar para ajudarem na renda familiar.

3 - Profissão: Como a falta de escolaridade é comum, profissionalmente também as entrevistadas se mostram despreparadas.
Sobra-lhes a profissão de doméstica, que não requer alto grau de instrução nem especialização de mão de obra.
As entrevistadas informam-nos, que geralmente empregam-se em casa de família, pois há a necessidade de trabalharem para poder cooperar com a família que via de regra residem em outros Estados, ou no interior.
Encontram dificuldades para desempenhar até esta profissão, pois não receberam as instruções mínimas, ocorrendo assim uma espécie de peregrinação por diversas casas de família.

4 - A questão da liberdade sexual: É ainda mais complexa, pois não só as mães solteiras, mas a mulher em si já não consegue obter este tipo de liberdade.
Com toda onda de liberação feminina, a mulher é vítima de si mesma, com todos os seus tabus e preconceitos.
Ela já não tem a liberdade de ir à festas, bailes, cinemas etc., pois o pouco que ganham com seu trabalho é insuficiente para se darem a esse luxo.
Procuram assim lugares mais acessíveis onde talvez tenham encontrado o pai de seu filho.
A condição de mãe solteira difere da de prostituta, uma vez que essa recebe pelo trabalho, e dificilmente vão conceber.
Pode ocorrer que em virtude de ser mãe solteira, a condição de prostituta seja a próxima escolha, ou necessidade.
Falta de instrução quanto aos seus instintos sexuais contribuam para que o problema aumente.
Poucos sãao os casos de prevenção para a mãe solteira e poucos ainda são os casos de acompanhamento médico necessário.
Seria necessário um conhecimento profundo da paciente, para que se possa orientá-la da melhor maneira possível.
O que ocorre na verdade é que a maioria chega ao médico já em adiantado estado de gravidez, por medo ou vergonha, que a sua condição irá lhe imputar.

As entrevistadas dizem que se os fatores acima fossem outros, talvez não seria dessa forma que sua vida transcorresse.
A necessidade que se apresenta é a de ter alguém que oriente, compreenda, acredite nas possibilidades dessa mulher: pois já é uma mulher antes do tempo.
As vezes o fato de assistentes sociais se interessarem pelos casos (elas são pessoas estranhas), os familiares acabariam entendendo que também podem se interessar pelo bem estar da mãe solteira.
Devemos lembrar também que a mãe solteira imediatamente após o nascimento do bebê terá necessidade de trabalhar, é considerado mais uma dificuldade à ser ultrapassada.

Com quem deixará a criança?
Fica a pergunta

- Gravidez indesejada
- Falta de instrução
- Falta de conhecimento do próprio corpo (externo e interno)
- Péssimas condições afetivo-familiares
- Péssimas condições financeiras
- Medo ou vergonha

São fatores que em grau menor ou maior, isolados ou associados, levam à procura de saída, talvez as menos acertadas para diminuírem o deseqüilíbrio emocional em que se encontram as entrevistadas.

BIBLIOGRAFIA

LAGENEST, J.P.Barruel de. Mãe Solteira? E dai? Edições Paulinas, São Paulo, 1990.

RUBINSTEIN, Célia. Mãe Solteira - Um problema social. Trabalho de conclusão de curso apresentado à Escola de Serviço Social de São Paulo.

Entrevista de Campo. Realizada pelo grupo, na Favela de Vila Regina. Outubro/1991.

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